A VINGANÇA DE FERMINA PEDROSA
Adilson Nunes de Oliveira *
Lá
vai ela, pelas ruas de Dom Pedrito, “perfumada, de rouge e batom”. Pintada em
excesso, adereços em profusão, colares vários, pulseiras muitas, anéis
múltiplos. E chapéu, sim e sempre, chapéu.E flores.
"Lá
vai ela", grita a criançada, a Fermina Pedrosa, assustando as crianças e
divertindo os mais velhos. Um tipo popular servindo de chacota a uns e outros.
Lá
vai ela, aquela que viraria lenda a ultrapassar o tempo. De um lado, um ser
apolíneo – busca constante da beleza, ainda que caricata.
De outro, aqueles que a irritavam, provocando-a, o lado demoníaco da história.
O povo se divertia com ela; e ela, com o povo.
Muitas
vezes, levaram-na a surtos, como na ocasião em que simularam seu casamento.
Havia, recém-chegado à cidade, um jovem militar, carioca, manso na fala e
tentador no olhar, homem bonito, por quem seria muito fácil qualquer mulher se
apaixonar. E Fermina Pedrosa se apaixonou. Simularam um casamento, para a pobre
mulher – um casamento para o povo todo assistir –
um
evento, sem dúvida.
Na
frente da igreja matriz, montaram os genuflexórios, forrados de tecido branco e
decorados com rosas, como merecia a cerimônia. Um gordinho atarracado, com um
pesado livro na mão direita e usando vestido de uma viúva, já estava pronto
para realizar a
celebração. Vestiram um jovem, com
uniforme do 14º Regimento...Grande público se formou, então. Montada, a cena não
podia ser mais perfeita, muito mais ainda diante do coração enamorado de Fermina
Pedrosa. Ia tudo tão bem... mas, na hora do “sim”, dois brigadianos
irrompem da multidão e prendem o noivo, pondo fim ao “espetáculo”. Resultado: a
noiva entrou em surto! E foi tão violento e de tal maneira inusitado, que todos
entraram em pânico...
Outro
episódio foi em 1923, quando o povo (malvado!) a convenceu de que havia sido
eleita Rainha do Carnaval. Até fantasia encomendaram a uma modista. Um vestido
branco, com luas e estrelas bordadas, que lembrava as noites claras de janeiro.
Cetro na mão, meio trêmula, e um chapéu (claro, tinha que ter um chapéu) quase
que de cangaceiro. Muita pintura, muitos adereços, assim ela percorreu ruas e
visitou casas, seguida por um séquito de malandros.
Recebida
com música, comes e bebes, ou como se dizia na época, “todos a brindaram com um
copo d’água”. Porém, em alguma casa lhe deram, para beber, um laxante! O
resultado não carece descrever.
Assim,
o povo se divertia com ela, e ela, com o povo, numa cumplicidade mútua,
demoníaca e apolínea.
Viveu
no século XIX, lá por 1850 e pouco, até início dos anos 40, sempre com sua
marca – muita pintura, muitos colares, pulseiras, chapéus
e flores...
E assim virou dito popular, proferido por quem
muitas vezes nem sabe a origem. Quando alguma senhora aparece muito enfeitada, logo
não falta alguém que lance a alocução: “Estás igual à Fermina
Pedrosa”,
lembrando o que guardado perdura no imaginário popular.
Essa
é a grande vingança a toda a maldade: todos nós de Dom Pedrito temos uma tia,
uma prima, ainda que distante, a quem cabe, perfeita e merecidamente, o título
de FERMINA PEDROSA.
Uma
fênix que ressurge no momento menos esperado, mas aparece , em grande estilo.
Demos
um “Viva” a todas as Ferminas Pedrosa que andam redivivas por aí.
ESSE É O TEXTO COM QUE MARCAMOS PRESENÇA NA ANTOLOGIA DO CÍRCULO DE PESQUISAS LITERÁRIAS - CIPEL- RECENTE PUBLICAÇÃO INTITULADA , "MULHERES, NA HISTÓRIA, NAS ARTES E NAS CIÊNCIAS " exemplares que distribui
entre alguns amigos, na BOLARIA DONA ZEILA
* Professor e museólogo. Diretor do Museu Paulo Firpo, Coordenador da VI Região Museológica. Articulista e intérprete musical.
entre alguns amigos, na BOLARIA DONA ZEILA
* Professor e museólogo. Diretor do Museu Paulo Firpo, Coordenador da VI Região Museológica. Articulista e intérprete musical.
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